“O estado da saúde” no PRÓS E CONTRAS
O programa “Prós e Contras” quando leva temas de interesse tem sempre o defeito de ser demasiado ambicioso para o tempo de que dispõe. Ainda ontem, no final, a jornalista condutora do programa concluiu que não tinha conseguido “meter o Rossio na Betesga”. Pois não. A Saúde é um tema tão vasto, mas tão vasto, que mesmo uma série de 3 ou 4 programas não seria suficiente.
A “vedeta” era o ministro da saúde. Vedeta pelo tempo que foi focado, não pelas respostas que deu, entenda-se. Bem sei que estava numa posição ingrata, mas as respostas que foi dando estavam de acordo com o seu permanente sorriso, vazias! O senhor sorriu quase todo o tempo e a sua cara foi focada não apenas quando falava mas mesmo quando eram os outros que falavam, o que lhe dava enorme visibilidade. Até irritante.
No Contra estava Correia de Campos, o que fazia um grande contraste. Porque era patente que este sabia muito mais do que estava a falar do que o ministro L.F. Pereira. Aliás sempre tive pena que o Correia de Campos tivesse estado tão pouco tempo no governo, porque é das pessoas que entende verdadeiramente do que está a fazer. E do mesmo lado estava Carmen Pignateli, que por lá andou bastantes anos, e disse várias coisas de interesse, entre as quais uma verdade enorme, na minha opinião: um dos erros onde todos os governos sucessivamente vão caindo, é que ao mudar um ministro muda-se tudo o que está implementado. O castigador de Sísifo ficaria bem feliz. Sempre fui dessa opinião.
Muitas vezes há estudos já quase concluídos, comissões a funcionar, dados importantes estão a ser trabalhados, mas essa obras é arrumada e começa-se tudo de novo. Como se houvesse uma desconfiança de que tudo o que vem de trás estivesse minado e fosse rebentar. Dificilmente se chega a concluir seja o que fôr, desse modo.
Jogaram a favor do ministro as sondagens. Mas que raio de sondagens! Os números obtidos só podem ser por a amostra ser muito estranha. Porque de acordo com aquilo andamos todos felizes e contentes. E também teve sorte com a reportagem em directo que mostrou uma urgência sem ninguém e o único doente tinha sido atendido em 10 minutos. É certo que há dias assim, mas foi a sorte grande para o lado dos Prós. Naquele mesmo hospital, estive há uns anos com uma senhora de 84 anos que chegou lá enviada pelo Centro de Saúde com uma clavícula fracturada, das 5 da tarde até às 2 da manhã. Nada do que se via ontem.
Os temas de que se queria falar - diferenciação das taxas moderadoras, a gestão empresarial dos hospitais, a reorganização dos serviços de urgência, a eficácia da rede dos serviços de saúde, as listas de espera ou os medicamentos genéricos foram abordados com diferente profundidade porque o tempo não chegou. Falou-se muito das taxas, e aí o lado Prós só teve a seu favor as famosas sondagens. A recolha que se fez a nível dos sistemas de saúde europeu mostrou que mesmo os países que as têm são iguais para toda a gente. Porque a filosofia que justifica a sua existência não é fazer pagar os tratamentos mas “dissuadir” os doentes de recorrerem aos hospitais em vez de Centros de Saúde. Certamente que não se vai querer dissuadi-los de se tratarem. Quanto aos hospitais-empresa falou-se mais por alto do que o assunto merecia. Mas o tempo não chegava. E foi esse o maior defeito do programa – era completamente impossível abordar-se tantos e tão graves problemas numa única sessão. Este modelo não serve. Já noutros temas de interesse o tinha pensado. Ficou com uma abordagem razoável sobre a rede dos serviços onde foi realçada a falta de comunicação entre doente médico, e mesmo entre os diversos médicos. Chocante mas paradigmático, um caso real onde morreu uma mulher jovem, em dois dias, tendo passado por diversos serviços sem lhe fazerem o diagnóstico nem tratamento. Quanto aos genéricos, listas de espera, e mesmo os hospitais S.A. a abordagem foi pela rama que o tempo não deu para tudo. Foi pena.
Afixadelas
Concordo em absoluto com o que dizes.
Mas por exemplo, o que me irrita particularmente nesse programa (pelo menos as vezes que o vi) é a manipulaçaõ do debate por parte da jornalista.
Olaré! Também me irrita particularmente! Ela leva as pessoas a dizerem o que querem e o que não querem! Concordo em absoluto contigo. Que nervos!!!!
Afixado por Emiéle
Na semana passada recebi a confirmação de data e hora para uns testes num Hospital SA; a consulta que deverá avaliar o resultado da análise está marcada para uns dias antes... Nada de novo, a não ser os termos; sou cliente e não utente.
Dica para os médicos e farmacêuticos: tal como o peixeiro ou o padeiro, podiam comprar uma carrinha, equipá-la de consultório, carregá-la de medicamentos e ala: estrada fora de aldeia em aldeia. É só buzinar à chegada. Facturação e receituário garantidos.
Afixado por João Ribeiro
São essas coisas ( a consulta não estar articulada com o resultado do exame) que bradam aos céus, mas os nossos gestores acham normal...
Ainda há poucos dias, uma amiga que receou ter uma doença gravíssima, foi a Espanha, e lá fizeram-lhe num único dia os exames e observações que aqui tinham levado mais de um mês e alguns ainda iria fazer lá para Outubro. Atenção, estou a falar de uma situação onde ela PAGAVA ! Em Espanha o atendimento foi de enorme respeito e sensibilidade pelo problema, e ficou sossegada em 48 horas.
Dá para acreditar?
Aliás o caso que contaram ontem, para além da falta de competência em detectar a doença, era chocante a falta de respeito pelo doente. E isso não tem a ver com dinheiro, é uma postura, é educação!
Espero que o teu caso não seja urgente...
:)
Afixado por Emiéle
Quanto a este assunto, um dos temas que ontem não falaram e que creio que é importante é o do atraso das consultas.
Afixado por Johnny
Concordo com o Johnny. É que quando se fala em "listas de espera" só se fala em operações e está bem. Mas quem precisa de uma consulta e espera meses e meses? Há especialidades que só com cunha!!!!
Afixado por Ana
Olha João, essa da camioneta, creio que ainda não há, mas há muitíssimos oculistas que contractam um oftalmologista para dar consulta nas suas instalações. A pessoa precisa de óculos, vai ao oculista, é vista pelo oftalmologista que lhe passa a receita e encomenda logo os óculos. Pelo menos eu conheço vários sítios onde funciona assim. Mas se quiseres uma consulta de oftalmologia nunm hospital quantos meses esperas???
Afixado por Emiéle
O debate foi o que foi... Também acho que a Fátima Campos Ferreira dirige aquilo de um modo muito autoritário e encaminhando para onde quer.
De qualquer modo gostei do Correia de Campos. Estava a anos-luz do ministro.
Afixado por Estrela
Ola,
não, não vi o programa na Tv, mas ando a procura na Net pelo regulamento de "consulta em 48H". Porque?
E triste, meu filho foi as urgencias (SAP) aqui no Algarve no dia 2.10. Foi lhe passado a credential para ir ao Hospital Faro, as Urgencias. A medica na banca ate falou ao telefone com o especialista ORL para marcar consulta no dia 08.10 (mais uma otite grave!). Fomos, mas o medico nao foi visto a semana toda!E novas consultas so o medico pode marcar!E nao, telefones nao ha, tem passar aqui para semana!..... respeito para os doentes? Hahaha... (vais tirnado mais uns dias de folga e faltas na escola, ne?).
E pena, meu filho tem 15 anos, tem um timpano artifical pois teve uma cirurgia 18 meses atras - com cunhas e longe do Algarve - era uma otite cronica arastada durante muitos anos por medicos negligentes no Algarve (dos Centros de Saude como Particulares!!!Ainda tenho os documentos todos!). Ele agora so ouve 30% num ouvido, e a infecção voltou! Estamos ambos com muito medo vamos tentar puxar os cordelinhos das cunhas outra vez - pois aqui no Algarve se morre antes de ter uma simples consulta! E quem nao morre fica com danos graves permanentes....
Talvez devia ir a comunicação social com este caso triste..... talvez, um dia destes - e ha tantos outros casos neste pais! Mais primeiro tenho "tratar a saude" do meu filho.
Voltando ao inicio da conversa: alguem sabe me indicar qual e o DL com o regulamento dos Centros de Saude? Quero saber o que diz o nº2 do artº 50!
Obrigado
Uma mae triste
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