sexta-feira, 16 de abril de 2010

Pedofilia é "questão dolorosa para a Igreja"

Os abusos sexuais envolvendo membros do clero "são uma questão muito dolorosa para a Igreja" e, em Portugal, os bispos garantem que estão atentos. Afiançam a inexistência de "casos concretos" no país e descartam a criação de uma comissão que analise a matéria.

Para o vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) este "é um fenómeno que diz respeito a toda a sociedade e que infelizmente atingiu também a Igreja".

Em entrevista ao JN, D. António Marto admite que a questão "é muito dolorosa" e recorda a carta recente escrita pelo Papa aos católicos da Irlanda, em que "impõe os princípios de actuação em ordem a uma limpeza desta sujidade que atingiu a Igreja".

Frisando que esta questão "não tem grande repercussão nos países latinos", o bispo da diocese de Leiria-Fátima acredita que em Portugal, tanto quanto sabe, "não haverá grandes casos". "Ninguém, pelo menos até à data, tem queixas concretas sobre casos concretos", afiançou.

Daí que, na assembleia plenária da CEP, que ontem terminou em Fátima, os bispos tenham descartado a possibilidade de ser criada uma comissão que analise toda esta problemática. Num único parágrafo do comunicado final, os bispos dizem estar "atentos à situação" e asseguram que se "orientam pelas recentes instruções da Santa Sé sobre este grave problema".

Essas normas, datadas de 2003, mas divulgadas esta semana pelo Vaticano, dizem que "o responsável primeiro é o bispo da diocese, que terá de receber (as denúncias), verificar se têm fundamentos e depois instaurar o processo", explica D. António Marto, lembrando que a norma passa também por "respeitar a lei civil de cada país".

Em Portugal, ao contrário da França e Inglaterra, não existe a obrigatoriedade de denunciar estes casos à Justiça, disse o bispo.

Sobre a eventualidade de este escândalo poder ter repercussões na visita que Bento XVI fará a Portugal, de 11 a 14 de Maio, D. António Marto disse ao JN acreditar que "a viagem não seja perturbada por isso". Mas, "se porventura o for, o Papa é um homem muito calmo, muito lúcido e sem medo de enfrentar o assunto como aconteceu quando foi aos Estados Unidos e à Austrália. Ele fê-lo e as viagens correram bem e até com muito agrado das pessoas porque viram a clareza e a transparência que a Igreja tem", sustentou.

Já quanto a uma possível "campanha" contra a Igreja, o prelado garante que não sabe, mas admite que "às vezes a gente vê que há uma convergência de interesses orientados para isso".

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